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Foto do escritorMorrigan Ankh

DEMÔNIO A QUEDA - introdução ao cenário (capítulo 13)



People HELL-o! Estou postando atrasada, pois tive um pequeno acidente esta semana... Vacinas e bandagens a parte, fica aqui a 13ª parte da história. Agora, Tural e Dolores se encontram... e dois mundos COLIDEM!

Se você está chegando agora, por gentileza confere os links no final desta postagem!

Bora lá!


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13. TIC TAC [Reunião]

Tão logo vira os cacos de vidro, Tural sentira o frio na espinha. Olhou a sua volta, esperando por uma faca, um par de asas, Nepesu, qualquer coisa. Se aquele Caído da invocação havia conseguido descobrir seu paradeiro, era hora de acelerar as coisas. Teria que falar com Patrício, ver meios mais eficazes de trazer Mariana e Nestor para seu lado… logo! Agora, porém, teria de vestir outro sorriso falso e receber os Parasitas. Dona Adelaide estava terminando de tirar uma bandeija de frango congelado sobre a pia, quando Tural entrou pela porta. No relógio, pôde ler 9h46.

* * *

Cuspiu um caroço de azeitona, acertando dentro da lixeira. Era o décimo quarto caroço que atirava dessa forma, desde que abriu o pote às 8h01. Dolores estava matando tempo, enquanto não matava outra coisa. Dormira mal. Estava ansiosa com sua descoberta atual.

“Débora, a relaxada…”Pensou consigo “Débora, a detentora de exércitos… Tsc.” Torceu a boca. “Débora, a pedra no meio do caminho…”

Dolores deixou muitas coisas no passado. Diga-se de passagem, deixou muitas coisas escondidas no passado. Às vezes, quando lembrava dos velhos velhos velhos tempos, tinha um pequeno atraso para lembrar alguns nomes, até mesmo o seu. Não é que os tivesse esquecido, mas suas escolhas para mudar quem é, em relação a quem foi, foram intensas. A última pessoa que usara seu Nome Celestial foi o Senhor Hernandez.

“A família dela deve esta chegando. Preciso saber quantos são…” Dolores olhou o display do celular. Eram 9h47.

* * *

Às 10h, os Parasitas apareceram. Débora abriu a porta com a mesma expressão insípida de anos, mas foi Tural quem agradeceu pelos celulares de bateria cheia dos sobrinhos. Conforme se adaptara como Débora, compreendeu que não era ódio das crianças, mas da falta de educação, de hierarquia. Sua própria existência fora organizada numa hierarquia divina, não sabia muito como viver sem aquilo, logo, sempre estranhou a impetuosidade dos jovens humanos.

- Nossa, maninha… tá ficando gatinha… perdeu peso, é? – Disse Denise, a irmã, entrando na sala. – E ae, mãe? Como é que a senhora tá?

Algo doeu dentro de si quando cogitou que poderia estar vendo aquelas pessoas pela última vez. Durante a última visita, Tural estava num módulo de piloto automático, apenas reagindo àquela família. Desta vez, pensou em realmente estar presente. Talvez, devesse isso à Débora, mas provavelmente, devia isso a si mesmo também. Protegeu humanos no passado, poderia protégé-los no presente… Não é?

“Eu entendo, Débora…” Pensou Tural enquanto pegava os copos para servir um refrigerante. “Eles têm defeitos, magoaram você… até usaram você… mas as memórias construídas com carinho são difíceis de esquecer e, sem elas, qual seria o valor de tudo? Sem elas, pra quê eu continuaria a existir? …Acho que você chamaria isso de… esperança…” Deixou o refrigerante bater no fundo do primeiro copo.. “Eu lembro de você ter contado sobre o seu primeiro beijo para sua irmã… e do detalhe que omitiu. Lembro dos sorrisos de Nepesu, Leishaiel e Domot’ir perdidos entre as minhas memórias dos primeiros dias da Criação...”

- Tia Déboraaaa!!! – gritou um dos sobrinhos. – Cadê o refri!!?!?!???

“Preciso avisar o Patrício…” foi a última coisa que pensou enquanto servia refrigerante e se deixava contaminar com o momento familiar na sala,

* * *

Às 11h20, Dolores saiu de casa em direção à residência de Débora. Mais uma missão de observação e, talvez, um pequeno plot twist. Vinte e sete azeitonas e quatro cervejas depois, ela ficara um tanto otimista sobre a possibilidade de resolver tudo antes do anoitecer: chegar no local, observar, averiguar que a tal Débora não passava de uma trouxa e ir para casa comer uma omelete; ou chegar no local, observar, destruir todos dentro da casa (num terrível acidente com escapamento de gás, claro!) e ir para casa comer uma omelete.

Às 11h42, já estava chegando ao local. O cheiro de galinha estava no ar junto às vozes. Entrou no pátio, calmamente, como se fosse moradora da casa. Pelos sons agudos, concluiu que havia crianças também. Esgueirou-se até a janela da cozinha e ficou escutando. Trinta minutos depois, já estava louca para fumar um cigarro. Não resistiu, teve de ir até o lado de fora da casa e fumar seu Delboro Light. Seu vício era maldito, um lembrete eterno sobre quem e o que ela era. Quando terminou o segundo cigarro, já tinha elaborado um novo plano.

* * *

Às 14h, os Parasitas foram embora. A vantagem de morar longe da família é essa: as pessoas vão embora cedo, para chegar mais rápido em casa. Tural largou as falsidade que Débora encenou uma vida inteira e foi para o quarto. Estava trocando de roupas quando notou a janela. No parapeito, um livro fazia peso sobre um pedaço de papel com a seguinte mensagem:

“Olá, vizinha. Precisamos conversar. Me encontra na Praça do Alemão à meia-noite de hoje. Nem preciso dizer para vir sozinha, né?”

O papel ficou em suas mãos por alguns minutos, antes que Tural voltasse ao presente. O corpo estava gelado de pânico.

“ELE ESTAVA AQUI!!! ELE ME ENCONTROU!!! ESTAVA AQUI, NA MINHA CASA, ME OBSERVANDO!!!” Seu pensamento parecia uma correnteza arrastando a lógica para longe. “AQUI, AGORA, MEXENDO NAS MINHAS COISAS!!!” Com o Tormento tomando conta de si, somado ao medo, Tural só se conteve ao contemplar o espelho e enxergar outra face de si próprio. O Anjo do Semblante do Despertar, era uma caricatura da Vida, coberto por coisas que pareciam pólipos cancerosos e um tecido esponjoso peculiar, a pele, parecia doente, com cores duvidosas. Ajoelhou-se perante o espelho e contemplou aquilo. Odiou e lamentou cada centímetro de seu corpo. Em seguida, chorou baixinho.

* * *

Às 21h30, Dolores já estava fazendo a ronda na Praça do Alemão. Vasculhou o perímetro por outras presenças e surpresas, mas deu-se por satisfeita. Sentou-se no banco, atrás do qual encontrara Patrício desmaiado, deixando sua mochila aberta do lado. Retirou um iogurte e a colher, fingindo um pouco de fome. Não demorou muito, ela pôde ver a silhueta de Débora chegando.

“Porca, mas pontual…” libertou um ultimo sarcasmo antes que a outra sentasse.

* * *

0h... Meia- noite em ponto.

- Muito bem, estou aqui… – disse Tural enquanto cruzava as pernas.

- E, agora, eu te digo o que vai acontecer. Você vai parar com o seu esquema, entendeu? Acabou, finito! – disse Dolores.

- Desculpa, mas eu nã…- Tural foi interrompido por algo voando em sua direção.

- Ah, conta outra! – e Dolores jogou os guardanapos de papel que encontrou na construção abandonada onde Tural havia feito sua reunião com Patrício, Mariana e Nestor.

Tural apenas levantou uma sobrancelha na direção de Dolores.

- É, eu estive procurando você… - e ela apenas girou a colher dentro do iogurte.

- Pois é, até invadiu a minha casa… Isso que é necessidade de chamar atenção.

- Olha, você fez umas coisas legais… que fofo… conheço esse truque. Só que eu tô aqui a mais tempo, possivelmente sou mais forte também… Então, vai por mim, encerrou esse esquema e… - Dolores foi interrompida.

- E quem fala agora sou EU! – disse Tural – PORQUE SE VOCÊ TIVESSE ALGUMA VANTAGEM DE VERDADE, NÃO TINHA MARCADO AS COISAS DESSES JEITO, SUA IMBECIL… - e apontou a mão na direção de Dolores.

A dor cortou através da carne, do osso e da essência. Não teve sangue, nem tecidos partidos, apenas dor. Também teve o grito anormal e sobrenatural de Tural, reagindo à colher, somado à expressão de completa confusão. Naquele espaço inferior a um metro, uma mão foi bloqueada por uma simples colher… Ou melhor, parecia apenas uma colher aos olhos mundanos. Os dois demônios, entretanto, se olhavam de forma tensa.


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Revisão: Filipe Dias Tassoni (@amarelocarmesim)

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******* CAPÍTULOS ANTERIORES *******

1) FUGA [do Abismo] --- Nome Verdadeiro, Nome Celestial, Abismo e Corpo Hospedeiro. 2) LEMBRANÇAS [Paralelas] --- Casa, Adão e Eva, Lúcifer, Gehinnon (a primeira cidade), Ressonância

3) RECOMEÇO [Legado] --- Legado, Surgimento da Humanidade, Duas Ordens do Criador, Ahrimal, Grande Debate, Semblantes, Consciência, Eminência, Os nomes de alguns Anjos Rebeldes importantes na história do cenário, Miguel

4) VINGANÇA [Justiça] --- Doutrinas, o fim da imortalidade da humanidade, Casa Flagelo, Doutrina do Despertar

5) REFLEXÃO [Cautela] --- Antecedentes (Fé, Contatos, Recursos), Pacto e Ceifar Fé 6) CIGARRO [Negociações] --- Pacto (investimento), Seguidor, Tormento

7) ASCENSÃO [Poder] --- Antecedentes (Contatos), Revelação, Doutrina Primária 8)  CONTATOS [Diversidade] --- conceito de Invocação (uso do Nome Celestial para comunicação) 9) CIGARROS [Delboro Light] --- Presciência Sobrenatural

10) PREPARAÇÕES [Lâminas] --- aliados 11) LÂMINA [Faca] --- absorção de um Demônio por outro

12) NOVIDADE [Vizinhos] --- características de Forma Apocalíptica

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